Espero que não nos esqueçamos que, ao entrar no curso de letras, optamos por uma das tantas ciências que existem. Não aprendemos nem 1/3 do que há para se saber, porque há sempre muito para se descobrir e - talvez, quem sabe, por sorte! - contestar.
Entre minhas dúvidas estão presentes as da regência dos verbos, até que o professor Carlos me disse: "não se decora, não há como saber tudo, para isso existe o dicionário de regência verbal". E por isso, comprei um (em 4x no cartão da Rê) e fiquei muito feliz pelo investimento.
Segue, então, uma dentre as tantas loucuras que lá estão descritas, as quais eu ignorava completamente.
Sim, nós somos cientistas!
Se tem uma coisa que gostamos é de usufruir. Mas, será que devemos usufruir de algo, ou usufruir algo? Pois, vamos à explicação do Luft:
USUFRUIR 1. Transitivo direto: usufruí-lo. Ter gozo ou a posse de (algo alheio, que não se pode alienar, destruir ou desativar): Usufruir um prédio, uma indústria.
Transitivo indireto: usufruir de... (OBS.). Gozar; desfrutar; fruir; usar: Usufruir (d)as coisas boas da vida. “Usufruiu os rendimento (ou dos) rendimentos” (Jucá). Usufruir (de) amizades, (de) riquezas. Usufruir (d)os bens que se adquiriram. _ OBS. A variante regencial TI usufruir de..., registrada apenas, salvo erro, por Jucá, não faz mais que seguir o modelo da base verbal fruir: fruir as utilidades, fruir dos bens (cf. Fernandes: fruir).
LUFT, Celso Pedro, 1921 – 1995. Dicionário prático de regência verbal / Celso Pedro Luft. – 8.ed., 12.impr. – São Paulo: Ática, 2008. 544 p.
E como não se vive apenas de teoria, a vida também requer poesia. Estou postando um dos tantos poemas lindos da esposa do Sr. Luft. O qual faz parte de um livro que deve ser - não lido - devorado.
Somos inocentes
A parte dura desta humana lida
é dizer sim na hora do não,
escolher mal entre silencio e grito,
entre a noite e a explosão
do dia.
Ceder quando devíamos negar, dizer
não em lugar de afirmar, partir
quando era bom amar, fechar-se
em vez de resgatar
a vida.
Sermos tão incertos e indecisos,
perdendo o trem, a hora,
o agora: mas a gente
não sabia
- Lya Luft em Para não dizer adeus.
Quem é Lya Luft? Uma mulher gaúcha, brasileira, que faz cada vez mais, aos sessenta e um anos, o que desde os três ou quatro desejava fazer: jogar com as palavras e com personagens, criar, inventar, cismar, tramar, sondar o insondável.
Celso Pedro Luft partiu em 1995, foi um professor, gramático, filólogo, linguista e dicionarista.
Que lindo!
Eu não tenho um dicionário de regência. Nem sabia dessa relação entre a Lya e o Celso. Gostei da incerteza e indecisão destacadas por ela no poema. Tentamos nos esconder delas, mas elas estão a todo lugar. Devastam nossos pensamentos. Mas é por causa delas (incerteza e indecisão) que paramos para pensar. Não fossem elas, a vida seria uma cadeia de acontecimentos acumulados e tumultuados. É nos momentos de incerteza que conhecemos nossas fraquezas a admitimos para nós mesmos o quanto é díficil escolher quando nos é dada mais de uma opção.
ResponderExcluirChá